Uma facilitadora de caminhos

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A um mês do 4º Congresso de Mulheres, você tem a oportunidade de conhecer um pouco mais da vida e trajetória ministerial da Apóstola Marita Terra Nova, Coordenadora do evento. Dona de uma simplicidade que lhe é peculiar, chega a esconder atrás de sua singeleza a tamanha ousadia que a fez abdicar dos seus sonhos profissionais para se entregar ao chamado de Deus. Mãe, esposa e discipuladora, Marita Terra Nova revela os desafios de se conciliar tais funções, destacando os pontos mais marcantes da sua caminhada ministerial. Ao lado do esposo, Apóstolo Renê Terra Nova, ela protagoniza no Ministério Internacional da Restauração uma história de lutas, superação e abundante colheita

 

Lilian Bartira

 

Todos a conhecem como a Apóstola Marita Terra Nova. Entretanto, poucos têm conhecimento da trajetória trilhada para se alcançar tamanho êxito ministerial. Como se deu a sua chamada e o que a impulsionou a seguir a carreira da fé?

Na minha chamada inicial, como todo iniciante e seminarista, enfrentei dificuldades. Quando decidi ir para o Seminário, debaixo de um comando divino, a Igreja me enviou pagando somente os estudos. Para minha manutenção pessoal, fui ajudada em parte pelo meu pai e meu avô e, nas férias, além de todos os familiares levantarem recursos, eu trabalhava nos campos missionários.

Quando casei, vendia Natura e era manicure, para sobreviver com meu amado esposo no Seminário. Nossa vida era muito pacata, não tínhamos recursos financeiros, contudo o nosso curso foi feito no padrão de excelência por milagres diários que Deus realizava. Acredito nos milagres divinos. Ele nos honrou em tudo e não nos deixou faltar absolutamente nada.

Meu êxito ministerial tem dois focos. Primeiro, o entendimento que a alma generosa essa prosperará, e concomitantemente nessa ação social, Ele me deu o dom de socorro e misericórdia.

Segundo, a ajuda irrestrita ao meu marido para que ele corra. Na verdade, sou como uma facilitadora. Em uma das celebrações do meu aniversário, o Apóstolo Marcel, meu filho, disse: ‘Nos Céus da Mãepóstola, todos podem brilhar’. Digo que isso é verdade, pois, creio que Deus me chamou para facilitar caminhos. Conhece o meu esposo? Pois é, eu renunciei o meu caminho para que ele corresse mais velozmente. Não me anulei nos meus sonhos como mulher, esposa, mãe ou discipuladora. Esperei com paciência no Senhor o momento certo de avançar, e sei que Ele tem grandes coisas reservadas para mim. Apenas ando no propósito que Ele me chamou. Estou disponível para que Ele possa me usar como quiser, pois pertenço totalmente a Ele.

Essa é a Ana Marita que poucos conhecem. Nesse chamado, cumpro quatro propósitos, exercendo com amor o papel de mulher, esposa, mãe e discipuladora. Amo ser Pastora, uma formadora de geração.

 

A ousadia em responder “sim” ao chamado ministerial é uma decisão permeada de coragem, confiança e amor ao Reino de Deus. Dessa mesma forma, uma atitude que traz em si um peso de renúncia muito grande, sobretudo para quem começou a missão ainda na juventude. Quais foram as abdicações mais difíceis que a senhora teve que fazer?

Meu sim para Deus foi dado desde o primeiro momento em que recebi o chamado para o ministério, em um culto de celebração, em 1981, no dia de Missões Nacionais na Igreja Batista em Itajibá-BA, cidade onde eu morava. Desde lá, nunca tive dúvida do que Deus tinha para minha vida; jamais desviei do meu propósito e da minha convicção da chamada. O meu amor pelo Reino era e continua sendo imenso. Toda a minha trajetória foi permeada de uma coragem que não era minha, mas concedida pelo Senhor Jesus.

Na época, tive que deixar minha igreja, minha família e as pessoas que eu amava, para atender ao chamado, indo estudar em Recife, uma cidade distante onde eu não conhecia ninguém e tinha pouca experiência. A maior renúncia seria deixar a minha cidade com um conjunto de coisas novas que estaria aprendendo na igreja, assim pensava eu, e também ter que deixar o meu pai e os meus quatro irmãos mais novos.

Tinha como projeto ser médica, profissão que me fascinava. Estava com tudo certo para receber uma formação acadêmica em Salvador, e abdiquei desse propósito em função da minha carreira vocacional e o chamado que recebi do Senhor Jesus (Atos 20:24).

Em nenhum momento, titubeei porque o mesmo Deus que me chamou me revestiu de uma coragem indubitável, fortalecendo-me para os momentos difíceis. Hoje com uma visão mais ampla posso dizer: É melhor obedecer do que sacrificar. Mais importa servir a Deus do que a homens.

 

Dentro das suas experiências com projetos missionários de evangelismo no Nordeste do Brasil e também fora do país, quais foram os elementos que lhe foram adicionados e refletem como soma ao seu ministério hoje?

Todas as novas esferas que a própria experiência de vida nos oferece, cada uma delas nos leva a um nível de amadurecimento e novas descobertas de horizontes a serem conquistados. Na execução de inúmeros projetos desde o tempo de estudante no Seminário de Educadoras Cristãs até os nossos dias, uma das coisas que mais me fascina é ver que o Reino de Deus é imutável e que todos os lugares precisam da real conduta e testemunho ilibado das pessoas que se dispõem a realizar o trabalho missionário.

Um dos elementos adicionados ao meu ministério hoje fala da fé que devemos ter, uma fé sem limites. Outro elemento é a tomada de consciência de que, para cada lugar, devemos estar com a armadura de Deus e não podemos subestimar o nível de ataque do inimigo com seus principados. E por fim, a importância do trabalho em equipe que é e continua sendo fundamental para nos reconhecermos como amigos e irmãos em Cristo, um considerando o outro superior a si mesmo, como ensina a Bíblia.

 

Quais as maiores dificuldades encontradas para se conciliar as tarefas de mãe, esposa e Apóstola de um dos maiores ministérios do Brasil?

Essa pergunta é uma das mais difíceis para ser respondida e a mais curiosa por exigir uma resposta satisfatória para as mulheres. Como toda mulher tem dificuldades, eu também não poderia ficar de fora. Confesso que no início não foi fácil e hoje também não continua sendo.

Porém, existe um dom na Bíblia chamado de dom da sabedoria, e é nele que eu me apego. Uma das chaves que me tem sustentado para conciliar todas essas situações, também, é a oração. As dificuldades existem e sempre vão existir, enquanto formos gente. Elas existem para nos amadurecer e nos levar a alcançar o propósito.

Sem nenhuma demagogia, eu não encaro as funções que desenvolvo como dificuldades ou tropeço, porque amo ser esposa, mãe, Apóstola e Pastora.

Procuro administrar da melhor forma possível, principalmente dando uma assistência maior quando estou distante de casa, mesmo no Brasil ou em outro país. Os meios de comunicação atuais são uma bênção para todos nós. Mas, o que mais me traz conflito é estabelecer uma ordem e essa ordem não ser cumprida, ser violada ou desobedecida.

 

Como foi receber a unção pastoral num tempo em que as mulheres ainda viviam sob um alienado estereótipo de que essa seria uma função destinada apenas aos homens?

Quando eu recebi a unção, já havia alguns anos que estava exercendo a função do pastorado, mas não de fato, porque ainda não havia recebido a imposição de mãos com o óleo.

Fui agraciada por Deus e privilegiada, porque quem me ungiu foi o Apóstolo Renê e a Apóstola Valnice Milhomens a qual tenho como um referencial para minha vida. Na época, eu não estava preocupada com o estereótipo, pois da forma como Deus confirmou a chamada pastoral, não era necessário duvidar de mais nada; era crer somente no que Ele iria ministrar e fazer na minha vida a partir daquele novo momento. O meu coração estava escancarado para receber as novidades dEle.

Após a forte experiência de uma confirmação individual (eu e Deus) jamais poderia dizer ‘não’ para aquele momento. Na teoria, poderia até pensar que o chamado era somente para os homens, porém tudo estava provando na prática, a partir da Bíblia, que Deus deixou e apoiou o ministério feminino. A forma como Deus tem chamado e usado poderosamente às mulheres no Brasil e no mundo é a prova maior dessa verdade.

 

A senhora é testemunha ocular e ativa desde o processo de fundação da Igreja da Restauração. Contudo, sabe-se que os caminhos para se alcançar grandes vitórias nem sempre são aplanados e os desafios são sempre constantes. Como é para a senhora relembrar o passado e contemplar os resultados do Ministério hoje?

É salutar e ao mesmo tempo gratificante poder ser testemunha e participante do processo de nascimento e fundação da Igreja da Restauração. Quando começamos, fomos apanhados com muitos desafios, porém a maior arma que temos é a palavra liberada no tempo oportuno deixando cair a semente em terreno fértil. A linguagem sã e pura faz parte do poder da palavra. Todo nosso começo foi fundamentado no poder da Palavra. Ao longo dessa trajetória, tivemos alguns problemas que apareceram para desviar nossa atenção dos propósitos e do foco. Mas o nosso Deus, sendo o Maior, nos deu escape em todos eles.

Enfrentei todas situações com o perfil de uma mulher cristã. Lembrava de Neemias quando estava construindo os muros de Jerusalém. Enquanto Sambalate, Tobias e Gesen falavam, ele não dava ouvido, continuava trabalhando. Enquanto as pessoas falavam, no meu coração não havia raiva delas, nem sentimento negativo de vingança.

Passamos muitos desafios em Manaus assim que chegamos nesta terra, e entendo que eles foram um treinamento para este momento. Nós abençoamos todos aqueles que se levantaram para falar, pois sabíamos onde eles iriam chegar. Por aqueles que se diziam inimigos, que nós não os tínhamos como inimigos, eu sentia compaixão.

Renê também sempre abençoou essas pessoas e eu, não na minha limitação de mulher, mas na minha coragem de esposa fazia de tudo para que ele ficasse tranquilo. Não instigava o assunto, nem murmurava, antes, dava todo o apoio para que ele fizesse o que deveria ser feito. Deixei que ele avançasse e fiquei como uma coluna de apoio para fazer o que deveria ser feito em Manaus enquanto ele se doava pelo Brasil afora ajudando outros ministérios. A minha ausência em muitas viagens não foi negligência da minha parte, foi necessidade de haver uma consolidação na família, pois minhas filhas eram muito pequenas, e oferecer apoio à igreja local.

Relembro o passado, e vejo que naquela época já tínhamos em mente que teríamos um futuro brilhante e promissor. Andávamos na certeza da vitória garantida. Dessa forma, é bom pensar que o passado contribuiu para o avanço e para as conquistas dos desafios. Somente assim, podemos reviver o passado, pois de outra forma o passado para nós não tem validade alguma.

Contemplar hoje o êxito do Ministério Internacional da Restauração é motivo de vivermos honrando o nome do nosso Deus que tem feito grandes coisas.