Ele era uma criança linda, educada, inteligente. Brincava tanto! Ríamos muito com os desenhos, coisas engraçadas que dizia e até quando ficava bravo ou caía. Mas ele foi mudando, deixando de conversar, passou a falar conosco só em monossílabos e sempre reclama de tudo! Alguém pode me dizer onde foi parar o meu filho?” Esse é um relato comum que se escuta diariamente em gabinetes pastorais, consultórios de psicologia ou psiquiatria e, quando se tem muita confiança e coragem, para as amigas ou familiares mais íntimos.

É normal termos dias em que estamos mais alegres, ansiosos e até cabisbaixos. Variações de humor acontecem com qualquer um e em qualquer idade. Contudo, isso parece muito mais comum e intenso nos adolescentes, além de ser especialmente irritante! Estudos científicos mostram que há alterações neurobiológicas no cérebro nessa fase, que deixam o órgão muito mais reativo, com funcionamento de alguns locais mais acelerado e justificam uma parcela do mau humor e a dificuldade de controlar as emoções nesse período da vida.

Porém, um em cada cinco adolescentes irá ter mudanças no comportamento por um tempo maior, caracterizando um quadro clínico de depressão, que pode levar até às ideias de suicídio. Isso gera nos pais, principalmente nas mães, uma angústia sem fim, pois o desejo do coração materno e protetor é de poder tirar com as próprias mãos todo o sofrimento. Nesse momento de dificuldade, vem à tona uma necessidade fundamental: a de educar, ensinando a eles como lidar com os sentimentos, quando muitas vezes nem os adultos sabem. É preciso ensinar que ele é capaz de enfrentar muitas situações sozinho, mas que não pode ter orgulho, vergonha ou medo de pedir ajuda.

A dificuldade de perceber, aceitar e buscar tratamento para depressão é, em parte, por um processo de negação, pela sensação de fracasso materno, por receio da família em não saber como abordar e por despreparo em como lidar com essa situação. Uma mãe nunca quer que isso aconteça com seu filho. Então, muitas vezes finge que não vê para não lidar com esses sentimentos. A sociedade, incluindo escolas, empresas, Igrejas ou onde for, não está preparada. A mídia não aborda o assunto de forma educativa e conscientizadora, focando apenas nos aspectos sensacionalistas.

Quando algo afeta um filho, o instinto natural de muitas mulheres é correr para consertar o que está errado, pensar no que magoou seu anjinho e atacar o agressor em defesa da cria. No entanto, vamos pensar um pouco sobre essa reação de defesa impulsiva. Quando alguém nos aborrece, é tão gostoso ser acolhido, ouvido e compreendido. Na maioria das vezes, não precisa nem que nos dêem opinião sobre como agir ou tomar alguma atitude por nós. É suficiente o simples fato de falar com alguém, de ter com quem desabafar sem se sentir julgado ou condenado pela situação.

É importante deixar os filhos com a sensação de que a porta está aberta, de que eles podem entrar e que encontrarão um ombro amigo tão bom quanto o colo de quando eram bebês. Com frequência, o adulto minimiza a importância e dimensão da dificuldade enfrentada pelo adolescente, por julgar ser uma reação exagerada e banalidades da vida. No entanto, é mais sensato dar oportunidade para falar, refletir, se acalmar e dar tempo ao tempo e a ele mesmo, para aliviar a tensão causada pelos motivos do estresse.

Todos já ouvimos falar do famoso tempo de qualidade. Portanto, esteja realmente presente! Deixe de lado celular, livro, TV ou qualquer outra distração. Não é apenas ouvir e abraçar, mas perceber que estão no mesmo barco, pro que der e vier. Ouça com atenção o que seu filho pensa sobre o assunto. Não tente resolver nada. Use frases como: “Entendo”. Pergunte: “O que você sente em relação a isso?” e deixe que ele reconheça quais emoções o dominam. Isso vai ajudar a desenvolver Inteligência Emocional. Finalize com uma pergunta simples e sem induzir a resposta: “Tem alguma coisa que eu posso fazer para ajudar?”.

Começou a chorar? Deixe-o à vontade. Não julgue ou emita opinião, não se faça de vítima de um filho ingrato que não reconhece o seu esforço. Deixe-o descobrir e mostrar o que sente. Os adolescentes frequentemente se sentem insatisfeitos com suas vidas e buscam fugas emocionais. Aparentar tristeza, irritação, impacto ou choque emocional quando o filho expressar suas emoções irá criar um abismo na relação e tornar os diálogos impossíveis, além de piorar a culpa e depressão que ele carrega.

Cuidado! Depressão não é frescura, uma fase, ou coisa de menino e nem vai passar sem tratamento adequado. Se você perceber que seu filho vive cansado e sem energia, isso pode não ser preguiça. Se ele não quer mais sair com a família ou os amigos ou fazer as coisas que sempre gostou, isso não é um bom sinal. Mesmo que tenha notas boas na escola, faça esportes ou poste fotos sorrindo e alegre todos os dias nas redes sociais, fique atenta!

Mais alerta ainda se não está melhorando, se tiver vontade de se machucar ou tiver pensamentos de morte. A melhora de uma tristeza comum, com um bom motivo, geralmente começa a ocorrer em um mês. Caso isso não ocorra, procure ajuda de um profissional de saúde mental. Seu filho pode estar disfarçando que está bem, como fazem a maioria das pessoas deprimidas, por pura vergonha do que sentem. Por fim, compreenda: Depressão mata! Há 3 adolescentes tirando a própria vida todas as semanas em nossa cidade. E vidas precisam ser salvas. Principalmente quando essa vida é a do seu filho.

Dra. Alessandra Pereira
Médica Psiquiatra, cristã, esposa, mãe de um adolescente de 17 anos,
um pré-adolescente de 10 anos e uma princesa de 6 anos que se acha adolescente.

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