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Publicado: 10.02.2013
Absalão, o abusado que destruiu o reino
Apóstola Ester Amazonas

 

Não é fácil aprender sobre abuso, nem sobre estupro, nem como lidar com isso. É um assunto que demanda atenção, mas é muito importante nos dias de hoje.

O texto de Deuteronômio 22:-25,26 diz que o estuprador é digno de morte, pois estuprar é a mesma coisa que tirar a vida da pessoa.

Em II Samuel 13 a 17, vemos a narrativa bíblica do estupro de Tamar, que foi violentada por Amnon, seu meio-irmão. Absalão, irmão de Tamar, tomou as dores da irmã.

Isso tudo ocorreu no meio de uma família mosaica. O contexto das famílias mosaicas é muito terrível hoje. Casais que se separam ou perdem o cônjuge, e têm filhos, e depois casam novamente, geram famílias mosaicas.

No caso de Davi, ele tinha essa constituição familiar mosaica, com muitas mulheres. Ele enfrentava conflitos familiares enormes.

Ocorreu que Amnon, filho mais velho de Davi, se apaixona por Tamar, sua meia-irmã, e cria uma situação, fingindo que está doente, a fim de Tamar cuidar dele. Porém, o que ele queria mesmo era violentá-la. Dentro da família, isso tomou uma proporção imensa, porque Absalão tomou o abuso da irmã para si.

Como você ficaria se você fosse abusado pelo seu próprio irmão e seu pai não tomasse nenhuma providência? O desafio de Davi, é que ele não era apenas pai, mas rei. Ele deveria cumprir a lei, a pena de morte, descrita em Deuteronômio, para seu filho primogênito.

Quando Amnon pratica esse abuso na irmã gera uma dor terrível em Davi. O que fazer com o seu primogênito? Ele acaba se omitindo e não faz nada diante da situação...

Tamar gera um senso de desvalia terrível, pois ela não poderia mais casar, afinal era vergonha por onde passasse. Ela estava marcada, destruída. Ao chegar ao pai, que é o rei, ele não estabelece a justiça. Quando se tem uma dor e não se é tratado justamente, a injustiça potencializa a dor e o trauma.

A desvalia foi tão grande que ela entendeu que seu pai não a amava tanto assim. Na sua mentalidade se estabelece o desamor, o abandono social, o abandono familiar e de justiça. Tamar se sente injustiçada na família e diante do rei.

A crença central da mente de Tamar e Absalão foi a desvalia do pai, a falta de posicionamento do pai. Eles se sentiram não-amados pelo pai, abandonados.

Todo trauma estabelecido na infância gera uma crença central, e é mais difícil de ser tratado. Todo trauma gera uma crença que é estabelecida na mente. É por isso que é tão difícil mudar comportamentos. Só mudamos comportamentos quando tocamos na crença, quando mudamos o pensamento que gera aquele comportamento.

Pense sobre o que você está pensando. O que você pensa coordena suas emoções. O que você pensa? Que você não é amado, que não é valorizado? Identifique o que você pensa, analise, julgue. E se você não consegue sair desse pensamento, busque tratamento, porque você entrou num labirinto. Todo pensamento fixo é doentio e precisa de tratamento. Todo sonho repetidor merece atenção. O conteúdo fixo pode dar a pista para você entrar em um tratamento.

A mentalidade estabelecida gera sentimentos tóxicos, mortais. O sentimento de Absalão é todo decorrente do trauma de Tamar, pois ele toma para si o trauma da irmã. Isso acontece muito na liderança. Quando lidamos com pessoas que vivenciaram traumas, automaticamente a tendência número um é nos misturarmos com essa dor, é trazer essa dor para si. Quando isso acontece, trazemos também a mentalidade do trauma e as emoções liberadas, e absorvemos.

No nome da compaixão e da misericórdia, podemos nos tornar discipuladores depositários das doenças dos discípulos. Só que chega um dia que não aguentamos mais. Começa a vir agonia e o corpo começa a somatizar. Isso porque vccê não colocou limites, e seu corpo começou a falar.

Isso acontece com vários profissionais que lidam com as dores de muitas pessoas, e não sabem separar o que é seu e o que é do outro. É preciso saber separar o que é do outro e não tomar para si. É preciso buscar ajuda e aprender a não ser um líder depositário.

No discipulado, como vamos dar um tempo para nos tratar? Em primeiro lugar, é preciso comunicar aos discípulos que não dará aconselhamento por um tempo e procurar tratamento. Isso não quer dizer que você não fará mais reuniões de célula, só que você não atenderá mais aconselhamentos.

Se sua reunião de 12 se torna um lugar de desabafo da sua dor e do seu desconforto emocional, pare e olhe para você. Procure tratamento. A liderança eclesiástica tem muito tabu com relação a tratamento terapêutico. Muitos acham que o líder não deve buscar essa terapia porque vai se expor, mas terapia é para se expor mesmo. Deus uma vez me disse: Ou você se trata ou você morre! E eu fui tratar todo o meu conteúdo de Igreja, que eu vinha acumulando há anos. Toda sobrecarga que eu estava carregando, eu pude despejar e recoloquei as coisas em ordem.

Eu tinha conteúdos seríssimos para resolver de pai e mãe, e como meus líderes não são meus pais, eu não poderia resolver com eles. Eu não sabia lidar com a dor da minha família e trouxe isso para a família cristã.

Não deixe que a vergonha e a culpa calem a sua voz. Culpa e vergonha são patologias que muitas vezes impedem alguém de falar... Se eu tenho uma mente de desvalia e desamor, eu acho que se eu me expor, o outro vai deixar de me amar... Esse tabu precisa ser quebrado.

A raiva também é outro fator resultante do abuso. Toda dor causa raiva. Toda dor deposita nas emoções muita ira e muita raiva. Todo abusado sente raiva e ira, porque abuso é violência, é não respeitar o limite do outro. Todo liderado tem limites diferentes, e você precisa saber lidar com o limite de cada um.

Absalão se tornou um potencial terrível de raiva e ódio. Ele fez guerra com o pai, matou o irmão, porque decidiu fazer justiça baseada na sua ira, no seu ódio. Na raiva, ou a pessoa reprime ou ataca. A personalidade de Absalão era de atacar; a de Davi, era de reprimir, de dar um passo atrás.

As suas emoções podem desenvolver culpa, medo e raiva... E fica neste ciclo. A pessoa passa a sentir mais culpa, porque está sentindo raiva. Ela se pergunta por que está sentindo raiva, se é crente? É difícil tratar a raiva sem acessar a culpa. Como você tem lidado com a raiva?

Tome cuidado quando você for tomar a causa do seu irmão, porque você estará diante do seu pai, e não dá para matar o pai. E se você não pode matar o pai, você fará algo para atingir o pai. E esse é o jogo das trevas. Resolva isso, fale com seu pai.

Quando nos sentimos muito violados, pensamos que o pai é o culpado, como foi com Absalão. Ele quis reforçar o seu poder de liderança buscando outros no reino que pudessem compreender a sua dor. A vida de Absalão se resumiu em se vingar do seu irmão e do seu pai. Ele reforçou sua dor, buscando outros com a mesma dor. Cuide para você não sucumbir junto com a dor.

Não se esqueça de ter ética bíblica para tratar com o rei e com o pai. É preciso validar que o lugar do topo é um lugar solitário, sinistro e doloroso. É muito difícil estar no topo, reinar, agradar a todos e realizar determinadas justiças.

É preciso ter muito cuidado e ética com a dor. Muitos em nome da dor não conseguem estabelecer para o outro o perdão.

Como você está dentro da sua casa em relação a sua família. A dor é real, não é irreal. A diferença está na forma como você enxerga e cuida do problema.

Entenda que você precisa se curar. Livre-se de tudo que tem prejudicado a sua vida, como pessoa, líder. Pode ser difícil e trabalhoso, mas não é impossível.

Quando uma pessoa é abusada, a mentalidade é que qualquer situação de dificuldade pode ser caracterizada como abuso.

Não podemos fazer a rota de Absalão. Não podemos fazer também a rota de Tamar. Nós vivemos no tempo da graça. Tamar não reconstruiu sua vida. Você pode, mesmo vivendo abusos nas mais variadas formas, ser restaurado e reconstruir sua vida.

Os abusos sexuais se propagam, porque na maioria das vezes, quando as crianças contam que estão sendo abusadas, os adultos, os pais, não acreditam.

Os pais precisam ter uma conversa franca com os filhos em relação a tudo, inclusive o sexo. A família tem que ser instruída. Pais e filhos precisam conversar e cuidar das problemáticas que surgem no meio do caminho.

Pais não podem matar filhos. Filhos não podem matar pais e irmãos. Olhe para dentro de você. Os problemas não estão no outro, estão primeiramente na pessoa que pensa que o problema é do outro. Entre em tratamento pessoal e livre-se da culpa, do medo e alcance cura. Você pode ser tratado e liberto das cadeias e amarras.

Olhe para o seu coração e veja onde está a mochila do abuso. Veja quem causou, mas se responsabilize por esse conteúdo, porque ele é seu, não é do seu pai nem do seu líder de célula. Você precisa ser responsável com você mesmo, pela raiva que carrega, pela culpa que assola o pensamento, pela amargura que tem feito de você uma pessoa difícil e busque cura.